Esses são alguns fatos e momentos
que vivi na Copa do Mundo de 1986 no México, quando o futebol arte do Brasil
ainda prevalecia sobre as demais equipes da época, devido ao futebol que a
seleção apresentara na Copa da Espanha em 1982, considerada por muitos como a
melhor seleção brasileira de futebol até hoje, DEPOIS DA SELEÇÃO DE 70, gritarão
muitos. Mas de 1986 também deixou muitas saudades!
“Seleción brasileña de
ex-jugadores de fútbol que disputou sete jogos durante o Mundial do México,
1986 – Primeiro jogo no Estádio do Universidad Guadalajara, Junho 1986 - Em pé:
Jajá, Luizinho, Gilberto, Sérgio Lima,
Junior, Agnaldo, Miltinho MPB-4 e Farlei Ramón, Patrocinador e Diretor da
Adidas; Agachados: Bira ‘véio’,
Tetaze, Betinho, Bira e ‘Pato’ Lucas (irmão do Muller e profissional do
Monterrey na época).
Equipe da seleção brasileira do
último jogo em 1986, em Guadalajara contra a França – Em pé: Sócrates, Josimar, Júlio Cesar, Edinho, Branco e Carlos;
Agachados: “Nocaute” Jackson, Massagista, Muller, Junior, Careca, Alemão, Elzo
e Massagista Chimbica do Fluminense.
Meu
relacionamento com a seleção Brasileira iniciou na década de 80, e em 1982 na
Espanha, assisti minha primeira Copa do Mundo de ‘dentro dos bastidores da
seleção’, devido a minha amizade com os saudosos Gilberto Tim, preparador
físico, e Dirceu, o “ponta esquerda”.
Fato
é que jamais a seleção Brasileira será como naquela época, e não falo somente do
futebol em si, mas da forma como se comportavam os jogadores e a própria estrutura
da seleção, que ainda não tinha atingido o ‘glamour’ de hoje, nem os ‘valores’
atuais do mercado do futebol, e assim, os jogadores não detinham o ‘estigma de
pop-star’ de hoje em dia!
Lembrem-se que em 1986 fazia
somente 16 anos que o Brasil tinha sido tri-campeão mundial, lá mesmo no México
em 1970, e que o goleador daquele mundial foi o Jairzinho, o ‘Furacão da Copa’
que em 1986 tinha 42 anos e ainda jogava muita bola. Como já tinha feito
amizade com o Jairzinho através do futebol, combinamos que nos encontraríamos
em Guadalajara, juntamente com o nosso amigo em comum ‘Betinho’, ex-jogador
carioca, músico e por fim ator de novela na década de 70, que vivia em Los Angeles naquela época.
Estádio do Universidad
Guadalajara, primeiro jogo treino da seleção com a equipe do Universidad, Junho
de 1986 - No Banco: Paulo Vitor, Eu; Sentados: Everaldo e Valdo e na frente Nocaute Jack Massagista - Jogo treino da seleção no Universidad Guadalajara
Com Falcão na ‘estréia’ do jogo
treino do Brasil em Guadalajara
Eu
e o Betinho chegamos à Guadalajara uma semana antes da seleção brasileira, e o
Jairzinho já estava lá também a convite de uma empresa brasileira que ele
promovia, e a cidade já estava em clima de copa do mundo. Aonde íamos éramos
recepcionados calorosamente pelos Mexicanos, e refiro-me a qualquer torcedor
brasileiro com a camisa da seleção, tamanha a paixão do povo Mexicano pelo
Brasil.
Com Branco no primeiro jogo
treino da seleção
Assim,
eu, o Betinho, e o ‘Jair Ventura Filho’, como o Betinho chamava o Jairzinho, resolvemos
montar uma time de futebol, e criamos “La selección brasileña de ex-jugadores de
fútbol”, pois além de Sérgio Lima que já estava também em Guadalajara e
que depois da Copa foi para o Texas dar aula de futebol em Escolas e por lá
ficou trinta anos, ainda contávamos com o Lucas, irmão do Muller e jogador do
Monterrey na época, além do Fred, ex Fluminense, Rildo do Santos, além de
outras ‘figuras’ e amigos que chegariam durante a semana do Brasil.
A
princípio não tinha noção do ‘peso’ do nome do “Furacão da Copa” no México, e então
o Jairzinho me incumbiu de procurar estádios locais e times de futebol para
jogar contra “nuestra selección”
podendo sempre falar em nome dele, e que eu fosse primeiro no Estádio do
Universidad Guadalajara, pois o Brasil faria o jogo treino no sábado seguinte com
o time do Universidad.
Com Jairzinho na Capa do Jornal
esportivo”El Diario” de Guadalajara
Chegando
ao Estádio lá pedi para falar com o Supervisor da Equipe ou o Diretor de
Futebol, e amavelmente me conduziram na sala da Diretoria, sem entender muito
ainda o Espanhol um pouco ‘cantado’ para os meus ouvidos.
Apresentei-me
e comecei a falar da “nossa” Equipe de futebol, e que pretendia fazer alguns
jogos ‘amistosos’ no período em que estaríamos em Guadalajara, e quando
‘nombrei’ o Jairzinho como um dos organizadores junto comigo, o cara levantou
de sua mesa e perguntou:
- “Es el Jair
mismo, el huracán del mundial de 70”?
- Sim, respondi.
O
homem saiu da sala, deu um grito no corredor que não entendi muito bem o que
disse, e em seguida apareceram mais quatro dirigentes e funcionários, e aí já
fui apresentado como “uno de los
directivos de la selección brasileña de ex-jugadores de fútbol que van a jugar
en Guadalajara con Jair, el huracán del 70”!
Em
seguida me levaram para dentro do campo para avaliar o gramado e perguntaram
que dia nós gostaríamos de jogar contra os ex-jogadores do Universidad e mais
alguns juniores!
Pego
de surpresa com tamanha hospitalidade, disse que poderia ser no domingo mesmo,
após o jogo treino que a seleção ‘principal’ faria com a equipe do Universidad,
e assim ficou confirmada a data da nossa primeira partida de futebol no México.
Em seguida me conduziram para ‘vistoriar’ os vestiários e demais dependências
do Estádio, o local onde fariam uma recepção para a nossa Equipe, e após uma
hora de visitação, um dos dirigentes mandou um funcionário me levar de volta ao
hotel.
A 'paixão' que os Mexicanos ainda tinham por Jairzinho, e isso permanece até hoje para a geração daquela época, era maior do que a paixão por sua seleção e pela seleção brasileira daquela Copa, pois em 70 consideravam que foi o melhor Mundial de todos os tempos.
Cabeçada de Sérgio Lima e gol no
primeiro jogo contra os juniores do Universidad Guadalajara
Após
o jogo em que vencemos por 2x1, fomos recepcionados com um belo Buffet de
comida Mexicana e fomos “apresentados à cerveja “Carta Blanca” que nós
chamávamos de “bolon” e lá no México
o apelido é “quitapon” (junção das
palavras ‘quitar’ e tapón’ – tirar e
tampa), uma garrafa de 350 ml cilíndrica e com o fundo da garrafa com uma
depressão que servia de “abridor” de tampa da própria cerveja, assim sempre te
davam duas garrafinhas, pois cada uma encaixava a tampa no fundo da outra, e
com um pequeno giro abria-se a tampa, uma novidade e um sucesso entre os
brasileiros na época (no link abaixo o vídeo do comercial da cerveja hoje).
Estava
dado o ‘ponta-pé’ inicial dos nossos sete jogos durante as próximas três
semanas na maravilhosa Guadalajara. Agora “só” faltava conseguir uniforme e
chuteiras para a “la selección brasileña
de ex-jugadores de fútbol”, pois era lógico que nenhum dos atletas tinha
levado chuteiras para ‘assistir’ a uma Copa do Mundo!
E
aí surge mais uma vez o que chamo de “circunstâncias da vida”, pois também estava
lá o meu saudoso amigo Farlei Ramon, Diretor da Adidas, meu amigo desde a Copa da Espanha em
1982, onde o conheci juntamente com o Cantor Fagner de quem era muito amigo
também, e lá em Sevilha permanecemos todo o período daquele Mundial entre
treinos e jogos da seleção, com intervalos na piscina do Hotel Los Lebreros, e
depois o visitava no Rio eventualmente. Farlei veio a falecer prematuramente em 1990, vítima de complicações nos rins e no fígado, lamentavelmente.
Com Farlei Ramón no ‘Club
Primavera’ de Guadalajara, CT da seleção brasileira
Farlei
na Copa do México tinha 37 anos e já estava na Adidas há quase dez anos, e foi
um dos primeiros Diretores da Adidas no Brasil e América Latina. Praticamente
introduziu o sistema de patrocínio de equipamentos esportivos (chuteiras) aos
jogadores de futebol, em uma época em que ainda não existia o marketing
esportivo como é hoje, pois as grandes empresas somente patrocinavam os times
de futebol com uniformes.
Na
volta do mundial da Espanha eu viajava ao Rio algumas vezes por anos e me
hospedava no apartamento dele no Leme, pois na época nós dois já éramos
divorciados e na década de 80 ainda se podia sair no Rio de Janeiro com o
Fagner, que um dia me levou para a famosa pelada na Casa do Chico Buarque, mas isso
é outro ‘papo’.
Club Primavera CT da seleção
brasileira
As tais ‘circunstâncias’ que fizeram que tudo
desse certo no México, “para a nossa seleção”, eram os contatos com a
‘bolerada’, e posso dizer que principalmente com o Farlei Ramón, que à noite
após minha visita ao Universidad Guadalajara, quando nos encontramos para a
tradicional cerveja no Hotel “Fiesta Americana” e ele soube que tínhamos armado
a ‘nossa seleção’ e já tínhamos jogo naquele domingo, chamou eu e o Jair ao seu
apartamento e lá dentro haviam caixas
e mais caixas de chuteiras Adidas da Copa do México, Bolas Adidas ‘Azteca’, a
bola oficial daquele mundial, além de camisetas de treino da seleção
‘principal’. Podem escolher meus amigos, disse o Farlei!
Cartaz da Adidas na frente do
Estádio Jalisco, Farlei de camiseta azul, Betinho e eu.
Farlei
nos presenteou com um conjunto de 18 camisetas e 18 pares de meia, algumas
bolas que, incrivelmente, só poderíamos jogar depois de iniciado o Mundial, e
com vinte pares de chuteira com os números que nós imaginávamos que serviria em
nossos ‘atletas’, pois foi tudo armado naquele instante e não queríamos perder
tempo em provar chuteiras, pois como dizia o Jair, “quem joga bola usa qualquer
número”.
E
assim, em uma tarde/noite em Guadalajara havíamos marcado um jogo no Estádio
Universidad Guadalajara e conseguido uniforme e chuteiras para uma verdadeira
seleção de futebol após a confirmação do primeiro jogo naquele domingo,
começamos a ‘convocar’ os jogadores para a ‘nossa seleção’ que estreou naquele
fim de semana. Esse ‘mundo’ na existe mais!
Jogo de estréia contra a Equipe Júnior do Universidad Guadalajara onde vencemos por 2x1; Todos com chuteiras Adidas e camisetas de treino da seleção doadas pelo Farlei Ramon - Empé, da esquerda p/ a direita: Jajá, Luizinho, Jairzinho, Gilberto, Sérgio Lima, Junior, Aguinaldo, Miltinho MPB-4; Agachados: Bira 'véio', Tetaze, Betinho, Bira e Pato Lucas;
Lance do primeiro jogo no Estádio
do Universidad Guadalajara
Fizemos sete jogos em Guadalajara
e vencemos todos, e pode-se dizer que na época fizeram tanto (ou quase tanto)
sucesso na cidade quanto os jogos do mundial, pois jogávamos nos intervalos dos
jogos do Brasil, e assim, a ‘torcida’ tinha outra atração para ver, pois a
equipe que montamos, modéstia a parte (bem, talvez com um pouquinho de
exagero), faria frente a algumas seleções daquele mundial.
Formaram a base daquele time, Jairzinho, na ‘meia-direita’ ‘Pato Lucas’,
irmão do ex-jogador Muller e que jogava no Universidad Guadalajara naquela
época, ‘Dito’, outro irmão do Muller
que jogava em Mato Grosso, Sérgio Lima,
ex Palmeiras, Inter de Porto Alegre dentre outros times, Fred, ex Fluminense e seleção olímpica brasileira de 1972 em
Munique, Rildo, ex Santos, Bira, ex
Flamengo, Betinho, ex Botafogo e
outros ‘bons jogadores’ amadores como eu que fui o ‘ponta-direita’ titular (modéstia a parte), e um zagueiro que se
não tivesse sido um dos grandes artistas da música popular brasileira, poderia
facilmente ter sido jogador de futebol, até hoje conhecido mundialmente como o ‘Miltinho do MPB-4’!
Betinho, Gilberto, Jair, Eu e
Junior Estádio Universidad Guadalajara
O
fato com que não contávamos foi a tradicional troca de camisetas ao final dos
jogos, e assim, na primeira partida já ficamos sem o uniforme dado pelo Farlei,
só que aí ele não poderia mais nos ceder camisetas, pois eram para os treinos
da seleção, e aí nas outras partidas sempre nos emprestavam camisetas de
treinos das equipes adversárias.
Em pé: ‘Pai’ ex-goleiro (como era chamado no México) e um dos primeiros
brasileiros a se radicar e viver toda a sua vida no México, Agnaldo, Miltinho MPB-4, Betinho, Jajá,
Sérgio Lima; agachados: Bira, Eu,
Bira ‘véio’, Jair, Luizinho, Dito e Lucas.
Após cada jogo, a recepção que os
Mexicanos proporcionavam era uma coisa inimaginável quando inventamos arrumar
jogos por lá, com muita comida e bebida à vontade. Depois do terceiro jogo eu
tinha que me “esconder” nos hotéis nos dias de jogos, tamanha a quantidade de
brasileiros e Mexicanos que queriam jogar e iam pedir ao Jairzinho, que escapava
dizendo que no time era eu quem mandava!
Teve
ainda a famosa “primeira” (e última) folga que o Gilberto Tim deu para os
jogadores da seleção, no dia 12/06, uma quinta-feira após o jogo contra a
Irlanda do Norte na terceira rodada, onde a seleção venceu por 3x0, das 16
horas até meia-noite, e aí “fui convocado” para organizar uma recepção privada
para os “rapazes da seleção”.
Jogos da seleção brasileira no
México 1986
Em
Guadalajara durante o Mundial, somente por ser brasileiro você era parado nas
ruas e os Mexicanos muitas vezes paravam para perguntar se estávamos
necessitando de algo, de carona, de saber alguma coisa, enfim, uma recepção e
atenção do povo que parecia um conto de fadas, uma ‘ilha da fantasia’, e assim
convoquei o Agnaldo (para organizar um local para a recepção da seleção com um
belo churrasco à moda brasileira), um carioca que também morava em Los Angeles
com o Betinho, e que já tinha casa, comida e roupa lavada de uma família
Mexicana que o adotou junto com o Luizinho, outro carioca que morava em LA
também, e os dois passaram quase um mês em Guadalajara na casa dessa família,
como convidados ilustres!
Passeio por Guadalajara em
véspera de jogo do Brasil
Agnaldo
e Luizinho conseguiram uma bela casa, que tinha churrasqueira (parrilla), de um amigo da família onde
eles estavam hospedados, pois disseram que após o jogo contra a Irlanda eles
gostariam de convidar alguns brasileiros para fazer um churrasco à moda
brasileira, sem informar, é óbvio, que levariam alguns jogadores da seleção brasileira
‘principal’!!
Essa
‘recepção’ com churrasco foi o ponto alto do período em Guadalajara, pois só
para lembrar, a seleção já estava concentrada em ‘regime fechado’ há um mês,
pois Telê e Gilberto Tim haviam estabelecido regras super rígidas de folga e
descanso após o episódio da ‘Toca da Raposa’ em Belo Horizonte, onde a seleção
ficou concentrada duas semanas antes de embarcar para o México, e lá teve a
famosa ‘saidinha noturna’ do Leandro e do Renato Gaúcho, que culminou com o
corte de Renato e a desistência de Leandro de embarcar para o México sem o
Renato, num gesto de extrema lealdade ao amigo Renato Gaúcho que foi o único
sacrificado naquele episódio, e com isso perdemos dois dos melhores jogadores
da seleção daquele mundial, e talvez a história tivesse sido outra.
Leandro
Então
veio o tão esperado dia de folga, pois as ‘longas’ sete horas de folga que Tim
havia concedido representavam no mínimo dois dias para a rapaziada ‘enfurnada’
em concentrações, treinamentos e jogos há mais de um mês. No dia anterior
quando fui falar com o Branco na concentração do Club Primavera onde a seleção
estava concentrada para dar o endereço da churrascada, após o treino Gilberto
Tim me chamou e disse:
-
Tetaze, estou sabendo que amanhã vocês vão fazer um churrasco e muitos querem
ir, mas avise a eles que quem não estiver à meia-noite aqui na concentração,
NÃO VAI ENTRAR MAIS!
Me
contendo para não rir, concordei com o professor Tim e falei que iria dar o
‘recado’ aos rapazes. Fui falar com o Branco para dar o endereço da casa onde
estaríamos esperando-os após o jogo contra a Irlanda, e voltei para o Hotel.
Na Bar do Hotel Fiesta Americana
em Guadalajara, nosso “QG” para assistir os demais jogos no ‘telão’, uma
novidade na época; Hoje em dia descobri pela Série ‘Narcos México’ da Netflix,
que nessa época esse hotel tinha um piso inteiro do “QG” do famoso
narcotraficante Félix, mas ali reinava a paz absoluta (assistam e confirmem).
No
dia seguinte após o jogo contra a Irlanda, eu e o Betinho, mais o Jairzinho que
convidou o Rivelino e o Junior também, fomos direto para o endereço onde
iríamos esperar os “convidados” da seleção brasileira, e lá já estavam nos
esperando o Bira, Agnaldo e Luizinho, e já estava tudo preparado pelo filho do
dono da casa, um rapaz de uns 22 anos e estava entusiasmado por ser o único
Mexicano “convidado” do Agnaldo e do Luizinho que teria o privilégio de
compartilhar um verdadeiro churrasco brasileiro com os jogadores da seleção
brasileira de futebol, uma coisa jamais imaginada por ele, como dizia
constantemente para nós!
Às
17 horas em ponto chegaram três taxis com alguns jogadores da seleção, e numa
das fotos que somente nós podíamos tirar, aparecem o Branco, Jair, Rivelino,
mas na churrascada estavam ainda, Edinho, Sócrates, Casagrande, e ainda deram
uma “passadinha e beliscar um pouco o churrasco”, o Careca, Alemão, Muller e
Sérgio Lima.
A
confraternização deixou a ‘moçada’ alegre e descontraída dentro da casa, mas lá
pelas dez horas da noite já comecei a ‘avisar’ que teríamos só mais uma hora e
tinham que começar a ‘vazar’, só que não com essa expressão, pois na época era
‘cair fora’ ‘se mandar’, etc!
Foi
então que vejo o rapaz Mexicano dono da casa com o telefone no ouvido e
chorando, o que imaginei que era devido ao seu elevado grau de “borracho”, como dizem lá para os
“bebuns”, e perguntei o que estava acontecendo, e ele me entrega o telefone e
diz:
- “Osvaldo, por
favor, cuenta a mis amigos quien está aquí en mi casa tomando unas cervezas e haciendo
parrilla, porque los coños no me están creyendo”! (Osvaldo, por favor, diga aos
meus amigos quem está aqui em minha casa tomando umas cervejas e fazendo um
churrasco, porque os cornos não querem acreditar em mim!).
Peguei
o telefone e disse algo como “não podia falar”, me despedi e desliguei o
telefone, abracei o rapaz e disse para tomarmos mais algumas cervejas que depois
daria umas fotos para ele provar aos seus amigos. Imaginem quem iria acreditar
no rapaz bêbado contando ‘semelhante asneira’ de que em plena Mundial de
futebol, os jogadores da seleção brasileira estariam num churrasco na casa
dele, após uma partida no Jalisco! Definitivamente era outro mundo, outros
tempos!
Até
hoje não há um registro sequer desse ‘evento’ em Guadalajara, e gostaria muito
que aparecesse alguma outra foto ou ‘notícia’ disso, pois com a escassa
tecnologia da época, algumas fotos se perderam.
Betinho, Jair, Rivelino, Edinho e Osvaldo Maia em uma
recepção que promovemos para a seleção brasileira principal no dia de folga
após o jogo contra a Irlanda do Norte, na terceira rodada.
Com o nosso ‘timaço’, jogamos no
estádio do Universidad Guadalajara, ainda em dois clubes que cederam os campos
para as seleções que estavam na cidade fazerem seus treinos, em outros Clubes
privados, como El Astillero, famoso em
Guadalajara, enfim, nos melhores locais e campos de futebol da região, tudo
regado a muita cerveja “quitapón’,
churrasco e comida Mexicana patrocinada pelos anfitriões, pois só a presença do
Jairzinho era suficiente para atrair público e oferta de jogos até fora de
Guadalajara, e só não jogamos mais porque o tempo não dava.
Em pé: Agnaldo, Jajá, Sérgio
Lima, Luizinho, Bira, ? e Dito (irmão do Muller);
Agachados: Eu, Jair, Betinho,
Pato Lucas e Pedrinho.
Agachados: Fred, Jair, eu,
?, Betinho, Pato Lucas e Bira.
Como ‘Chefe da Delegação’ e
‘titular absoluto da ponta-direita’, eu vistoriava os clubes e os campos e
definia o que deveria ser servido ao grupo após os jogos, antes de aceitar os
convites! O Jairzinho ‘se escalou’ na
meia-direita e eu devo ter sido o ponteiro direito que ‘mais recebeu bola na
história do futebol’, pois a meia cancha formada com o Sérgio Lima, Betinho e Jair, mais o ‘Pato Lucas’ na frente, me
‘consagrou’ e fiz dez gols em sete jogos! Era uma farra!
Passe de Jairzinho e gol meu no
2x1 no Universidad Guadalajara
Um dos jogos em Guadalajara
Um dos jogos em Guadalajara
Guadalajara: Jantar oferecido ao Jairzinho; sentados eu e
Sérgio Lima
Estádio Jalisco, Brasil x França
Até
que chegou o grande dia, véspera do jogo Brasil x França no Jalisco, e o
Jairzinho chamou eu e o Betinho no hotel dele para apresentar um Diretor de um
time do México que queria nos conhecer e marcar um jogo no próprio estádio
Jalisco, aquele mesmo onde o Brasil ‘mandava’ seus jogos do Mundial!
Fomos até o hotel do Jair, e lá
estava ele com esse Diretor do time que queria jogar contra “La
selección brasileña de ex jugadores de fútbol en el Estádio del Jalisco”,
e fui apresentado pelo Jair como o ‘Chefe da Delegação’ brasileira e que todo o
acerto seria comigo. Olhei para o Betinho e já ‘senti que esse tal acerto’ era
algo mais sério, e aí quando o homem foi embora o Jair nos contou que vieram
oferecer US$ 3.000,00 (três mil dólares) para jogarmos no dia seguinte ao jogo
Brasil x França, em um domingo NO JALISCO!
Estádio Jalisco, Brasil x França –
21/06/1986
Estádio Jalisco, Brasil x França –
21/06/1986
Três
mil dólares era o que eu tinha levado para ficar um mês no México naquela
época, era muita grana, e dividiríamos entre os três, pois afinal, nós
‘inventamos esses jogos’ e éramos os ‘donos do time’. Os uniformes (que duraram
só um jogo, pois tivemos que dar tudo), chuteiras, bolas, eu tinha conseguido tudo
com o meu amigo Farlei Ramon. Sobre isso ainda vou contar um dia como iniciou o
‘pagamento’ de patrocínio aos jogadores da seleção na Copa de 82 na Espanha,
para usarem chuteiras de futebol de determinadas marcas!
Guadalajara: ‘Jajá’ preparando a feijoada antes de Brasil x
França, com o saudoso
João Nogueira e eu.
Assim, no dia 21/06/1986, um
sábado, dia do jogo Brasil x França de Platini, marcamos de nos encontrar em
frente a ‘Puerta 8’ do Jalisco, uma
hora antes da partida, eu, o Betinho e o Jairzinho com o Presidente do Clube
com o qual iríamos jogar no Domingo ali mesmo, pois este seria o último jogo da
seleção naquela fase, depois iríamos para a Cidade do México.
O ‘homem’ chegou e nos
apresentamos, combinamos de jantar naquela noite no Hotel do Jair onde ele
faria o ‘pagamento’ da quota do jogo, e me disse que iria ainda com ele um
Diretor de TV para ver se poderíamos fazer algum acordo para televisionar nosso
jogo, mas queria nossa garantia de que a equipe completa iria jogar, e aí
talvez nós recebêssemos mais um ‘cachê’!
Eu estava tão impressionado com
tudo isso, que num misto de euforia e de satisfação, apertei a mão do
Presidente do Clube e disse:
- Senhor, só há uma maneira que
esse jogo não aconteça amanhã aqui no Jalisco, é se por acaso o Brasil perder
hoje para a França, porque aí você não encontrará nenhum brasileiro em
Guadalajara amanhã, mas fique tranqüilo, não tem time capaz de derrotar o
Brasil neste mundial!
O Presidente nos saudou, deu um
aceno com a mão e entramos no estádio Jalisco
dando muitas risadas e já combinando onde iríamos jantar aquela noite após
receber o ‘cachê’ do jogo de domingo.
Estádio Jalisco, Guadalajara
atualmente
Estádio Jalisco, Guadalajara –
Brasil x França, Junho 1986
Encontrei-me
novamente com o Jairzinho depois daquele Brasil x França somente no Rio de
Janeiro no Carnaval de 1987, onde desfilei pela Beija-Flor naquele ano com a
equipe do Fluminense, com Assis e Washington, Tato, Jandir, Leomir e Branco, mas
isso também é outra história a ser contada.
Jornal
O Globo, Março 1987
O Betinho ainda vivia em Los
Angeles, para onde voltou no dia seguinte, e eu e
o Jairzinho demos muitas risadas lembrando ‘do nosso jogo que seria o retorno
dele ao estádio Jalisco 16 anos
depois’ do Tri campeonato, e até hoje sempre que nos vemos comentamos de alguma
forma esse dia 21/06/1986... o resto é história...!
Com Rildo e Jair após um jogo nosso
Autógrafos antes dos jogos
Com Luiz um dos
anfitriões Mexicano
Jairzinho, Betinho,
Eu, Bira e Sérgio Lima na piscina do Hotel em Guadalajara, Junho 1986
Aquecimento primeiro jogo treino
da seleção em Guadalajara
Brasil x França – Pênalti batido
por Zico
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