quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Tacadinha do Tetaze - 27/12/18 - Livro Duas Pontes, Um Poema





Capítulo I
O Deserto do Arizona



A capacidade de superação e de persistência do ser humano às vezes toma contornos surrealistas devido ao resultado alcançado, e nada mais apropriado para exemplificar esse conceito, do que a história por trás da venda da London Bridge pelo Conselho da Cidade de Londres na década. de 1960.

No distante deserto do Arizona nos Estados Unidos começa nossa história na década de 1960; uma das histórias de um empresário que apesar de suas façanhas na escalada da nova revolução industrial do início do século XX, será sempre lembrado como o homem que adquiriu o maior peça de antiguidade na história, uma verdadeira Ponte!

Robert Paxton McCulloch nasceu em 11 de maio de 1911, filho de Richard McCulloch e Mary Grace Beggs. Seu avô, John Beggs, fez fortuna instalando usinas elétricas da Companhia de Thomas Edson em vários locais ao redor do mundo, além de fabricar carrinhos elétricos. Robert McCulloch e seus dois irmãos herdaram a fortuna do avô em 1925.

McCulloch recebeu seu diploma de engenharia e sua primeira empresa foi a Engineering Company em Milwaukee, Wisconsin, sua terra natal. Lá, ele também construiu motores de automóveis e com 30 anos de idade, McCulloch vendeu a empresa e começou a Companhia de Aviação McCulloch.

Em 1946, aos 35 anos, ele estava procurando outros negócios para instalar uma nova fábrica e, como seus irmãos tinham feito parceria com Ralph Evinrude na fabricação de pequenos motores a gasolina para barcos, McCulloch descobriu um novo mercado de moto serras elétricas que vieram para revolucionar esse mercado, onde qualquer um poderia usá-las apenas para cortar árvores ou gelo de lagos e rios.

Em 1950, McCulloch fundou a McCulloch Oil Corporation para explorar petróleo e gás, desenvolvimento de terras e energia térmica. Apesar da liderança da Evinrude no mercado de motores de barcos, McCulloch ainda queria fazer parte desse negócio, o que o levou ao lugar onde começou essa história que colocou seu nome na história.

A década dos anos 60 recém havia começado e o estado do Arizona queria expandir seu vasto território com novos empreendimentos e novas cidades, e na época o governo americano, com o objetivo de se livrar das terras desocupadas que pertenciam ao governo federal, e também para promover o desenvolvimento dos estados, doou ao estado do Arizona a área onde existe o Lago Havasu, um lago que foi formado pelas águas da Represa Hidroelétrica Parker, em um pedaço de deserto totalmente inóspito onde tinha apenas um aeródromo abandonado com uma pista de pouso da Força Aérea Americana.

O governo do Estado do Arizona tinha a obrigação de promover o desenvolvimento das áreas doadas pelo Governo Federal, e assim o governo do Arizona tentando desenvolver aquele pedaço de terra no meio do deserto, prometeu doar aquela área a qualquer um que propusesse a implementar projetos de habitação e turismo na região.

Foi assim que a visão empreendedora de McCulloch entrou em cena, porque ele queria trazer uma unidade de sua fábrica de moto serras para o Arizona, e com essas terras ele poderia desenvolver um projeto para criar uma cidade e vender propriedades para desenvolver o local, e então ele negociou com a estado do Arizona, onde recebeu a terra através de doação, com a obrigação de desenvolver e promover qualquer projeto imobiliário, de acordo com as leis locais, é claro.

Em seguida, McCulloch desenvolveu um projeto habitacional para uma cidade inteira, onde aproveitaria toda uma peninsula com um lago formado pela usina hidrelétrica Parker, pensando também em outro empreendimento ligado à fabricação de motores de barcos, e assim começa nossa história.

O projeto da futura cidade de Lake Havasu foi amplamente divulgado em todo o Arizona, e McCulloch contratou como seu agente imobiliário o jovem Robert Plummer, que comandava uma equipe de vendas, e as vendas começaram com uma campanha massiva na televisão, jornais, revistas e o que mais poderia ser exibido naquele momento.

Numa certa manhã, depois de quase quatro anos do início das vendas, Robert Plummer e sua equipe não haviam vendido nem 10% das propriedades, e a cidade de Lake Havasu parecia mais uma cidade fantasma.

Como costumava fazer todas as manhãs, Plummer foi ao seu escritório e começou a ler os jornais após a reunião com seus agentes sobre as estratégias de vendas do dia, mas naquele dia algo chamou sua atenção em um jornal de circulação nacional e imediatamente ele solicitou à sua Secretária para ligar para o escritório do Sr. McCulloch para ver se ele poderia atendê-lo com urgência.

Depois que a ligação foi confirmada pela Secretária de McCulloch, Plummer pegou a chave do carro e o jornal que estava lendo e saiu apressadamente sem dizer nada. Ao chegar ao escritório de McCulloch, ele entrou diretamente em sua sala e, estendendo a mão, cumprimentou-o.

- "Bom dia Sr. McCulloch"!

- “Bom dia, Sr. Plummer”!

- Olá Sr. Plummer, o que o traz tão cedo e tão eufórico ao meu escritório, perguntou o grande empresário McCulloch ao seu agente imobiliário, que imediatamente respondeu:

- Senhor, quero mostrar-lhe o que pode ser a solução para aumentar as vendas do nosso projeto de uma vez por todas, quero dizer, o seu projeto Sr. McCulloch.

A forma de se referirem um com o outro pelos sobrenomes era a maneira que eles encontraram para diferenciar um do outro, uma vez que ambos tinham Robert como seu primeiro nome.

E então, o Agente Imobiliário, na tentativa de corrigir o que ele havia dito ao se referir ao “nosso projeto”, disse:

- Sr. McCulloch, acredito profundamente que o Senhor deve investir um pouco mais em seu projeto com um novo conceito de promoção que gostaria de apresentar agora, e essa é a razão pela qual estou aqui agora.

McCulloch costumava passar alguns dias por mês naquela pequena cidade no Arizona, porque ele tinha empreendimentos em várias partes do país, e Plummer não perderia a oportunidade de conversar com seu chefe.

McCulloch era um rico e bem-sucedido homem de negócios que triplicara sua fortuna em menos de três décadas, sentou-se e pediu a sua Secretária que trouxesse água e café, enquanto ouvia o que Plummer tinha a propor agora.

McCulloch, que já havia investido mais de um milhão de dólares na construção de uma nova cidade no meio do Deserto do Arizona, no início dos anos 60 sem obter o menor resultado depois de mais de três anos do lançamento das vendas, portanto, não lhe custaria nada ouvir seu agente imobiliário mais uma vez.

- Sente-se, sinta-se à vontade e diga-me Plummer, qual é a sua nova idéia para aumentar nossas vendas, perguntou McCulloch com uma observação.

- Estamos quase em 1968, Sr. Plummer, e você e sua equipe venderam apenas cerca de 10% das propriedades em quase quatro anos, então me diga o que você tem em mente agora, enquanto saboreia seu café.

- Bem, Sr. McCulloch, o agente começou radiante: eu li no jornal hoje a notícia de um leilão que deveríamos participar, quer dizer, o Sr. deveria participar e tentar adquiri-la, porque se você comprá-la e trazê-la aqui para instalar no meio da propriedade, seu projeto estará na mídia e se tornará mais atraente e poderá atrair a atenção de todo o mundo!

- Mas que Leilão, o que devo comprar Plummer, gritou McCulloch?

- E Plummer abre o jornal em cima da mesa de McCulloch e mostra o anúncio, no qual o Conselho da Cidade de Londres venderá a London Bridge pelo melhor preço e quem puder comprá-la poderá desmontá-la e levá-la para qualquer lugar, e Plummer continua:

- Sr. McCulloch, um monumento como aquela Ponte aqui no Arizona, seria a maior atração deste lado do mundo, finalizou Plummer!

A euforia e a ênfase de Plummer era tão grande em contar essa sua idéia, que McCulloch permaneceu em silêncio por quase meio minuto, e finalmente se levantou e disse:

- Essa é a idéia mais louca que eu já ouvi Plummer!

(...)


Capítulo X
A Chamada Telefônica para o Estaleiro

Luckin disponibilizou para Plummer seu escritório no Conselho da Cidade, e assim ele poderia fazer todas as pesquisas e serviços que seriam necessários, além de disponibilizar para ele a ajuda de sua Secretária que o ajudaria com o que fosse preciso.

Durante a investigação sobre o custo do frete para o transporte da Ponte, Plummer foi informado por uma empresa de navegação que talvez um estaleiro inglês localizado na cidade de Dover, no sul da Inglaterra, no Canal da Mancha, estava construindo um navio cargueiro para uma empresa americana e que talvez essa empresa pudesse transportar a Ponte.

Poderia ser uma ótima oportunidade para conseguir um bom preço pelo frete, pensou Plummer, pois a empresa americana ainda poderia lucrar com a primeira viagem de seu cargueiro, além disso, a data de entrega do navio iria coincidir com a data do término do desmonte da Ponte.

Plummer então ligou para o estaleiro e pediu para falar com o proprietário, explicando que queria contratar um frete para os Estados Unidos e foi imediatamente transferido pela Secretária para o Sr. Phillip.

- Do outro lado da linha responde o Sr. Phillip, o proprietário do estaleiro, com um sotaque inglês totalmente diferente para os ouvidos de Plummer.

- Bom dia Senhor, o que posso fazer por você?

- Bom dia Senhor, responde Plummer com seu sotaque americano que foi imediatamente observado pelo Sr. Phillip.

- Vocês, americanos, estão em todo o mundo, disse o Sr. Phillip, esquecendo que a Inglaterra foi um dos países que mais colonizou outros povos ao redor do mundo, o que fez Plummer engolir em seco sua saliva antes de começar a falar.

- Eu estou aqui em Londres, Senhor, e gostaria de discutir com vocês um preço de frete para os Estados Unidos, porque fui informado de que seu estaleiro está terminando a construção de um cargueiro para um cliente na Califórnia, é verdade?

- Sim, respondeu o Sr. Phillip, e o que vocês querem transportar?

- Sr. Phillip, a empresa onde trabalho comprou a London Bridge aqui em Londres, e estamos no estágio de desmontagem da Ponte e soubemos que esta embarcação que o seu Estaleiro está construindo irá para a Califórnia, então gostaríamos de discutir o preço do frete com o Senhor ou com o dono do navio para transportar a Ponte desmontada para a Califórnia.

- Plummer esperou 10 ou 15 segundos com silêncio total do outro lado da linha, e de repente ouviu o típico sinal de linha ocupada intermitente.

Mr. Phillip havia desligado o telefone na cara dele!

Plummer ligou novamente para o Estaleiro depois de alguns minutos, e a Secretária que havia sido muito educada alguns minutos atrás, informou abruptamente que o Sr. Phillip tinha um compromisso urgente e que ele não poderia atender a mais ninguém naquele dia ou no dia seguinte, e também durante aquela semana.

- Plummer esperou novamente 10 ou 15 segundos com silêncio total do outro lado da linha, e de repente ouviu o típico sinal de linha ocupada intermitente.

A Secretária de Mr. Phillip também havia desligado o telefone na cara dele!

(...)
Capítulo XVIII
O Poema I
A viagem a Londres havia se tornado um conto de fadas para Plummer, e todos os dias ele conhecia novos fatos e histórias, e durante as duas semanas que ele esteve lá já havia vivido e assistido coisas que nunca viveu ou sentiu em toda a sua vida no Arizona, então ele sai da Prefeitura extremamente curioso com o tal poema que Agatha enviara a Luckin, agora mais curioso ainda para perguntar a ele.

No prédio do Conselho da Cidade, Plummer pergunta por Luckin e a Secretária o leva até o escritório. Ao entrar, ele vê Luckin sentado em sua cadeira, com um envelope nas mãos e olhando para o teto, que  cumprimenta Plummer como se ele não estivesse ali na sala.

Plummer se aproxima de sua mesa e pergunta o que está acontecendo, e Luckin, depois de alguns segundos, vira-se para Plummer e, com os olhos cheios de lágrimas, entrega-lhe o envelope que tinha nas mãos e começa a chorar na mesa.

Plummer incrédulo com a cena, pega o envelope e percebe que é a carta que Agatha lhe enviou, e então abre e pergunta a Luckin se ele poderia ler a carta, e Luckin apenas moveu a cabeça confirmando, e então imediatamente Plummer começa a lê-la.

- Caro Luckin: Estou enviando para você este poema porque foi o jeito que encontrei para decidir nosso relacionamento, então, lamentarei se você não entender. Nós dois estamos tentando encontrar o amor de nossas vidas e espero que você entenda o poema e também que você me entenda.
Beijos, Agatha.

 Não te amo mais!
Clarice Lispector

Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...
Depois de ler duas vezes o poema, Plummer devolve a carta a Luckin e pergunta se ele quer um chá e tenta fazê-lo se recompor.

Então Luckin e Plummer começam a falar sobre o trabalho de desmontar a Ponte, e Plummer diz a Luckin que tudo está indo bem e que ele já providenciou o frete marítimo para a Califórnia, e também que ele acabou de voltar da Prefeitura, onde conversou com o Prefeito e com Agatha.

Neste momento, Luckin pergunta:

- Plummer, você conheceu ela também, mas eu não entendo como ela teve a coragem de me enviar uma carta quebrando um relacionamento que nem começamos. Eu pensei que ela seria a mulher da minha vida, porque eu tenho mais de 40 anos e eu a amava muito, e antes de Luckin começar a chorar de novo, Plummer se levanta e diz:

- Luckin, vamos ao Pub em frente ao prédio e vamos conversar sobre isso, porque na verdade, eu não entendi nada e também não posso acreditar nessa situação. Qual seria a razão para Agatha enviar-lhe uma carta tão dura assim, fazendo Plummer lembrar a história dos Beatles, mas sobre isso Plummer não diria uma única palavra.

No Pub, Luckin começa a falar sobre seu trabalho no filme inglês e fala sobre a chance que teve de desempenhar o papel do Agente Secreto 007, fazendo Plummer começar a rir e se desculpar imediatamente, mas Luckin começou a rir também.

Então Plummer se sente à vontade para perguntar se Luckin já havia feito sexo com Agatha, e então Luckin disse que não e que ele achava que tudo terminaria muito bem entre eles, e aí recebeu aquela carta.

Imediatamente Luckin abre novamente o envelope e pede a Plummer que leia o poema com ele, só para ter certeza de que o que Agatha escreveu é o que ela realmente sentia sobre o relacionamento deles, e também se essa era a única maneira que ela teve a coragem para terminar com aquele relacionamento.

- Por favor Plummer, vamos ler este poema juntos para ter certeza disso, então eu vou procurar outros livros e poemas dessa escritora, mesmo no Brasil se necessário, porque eu tenho que entender qual é o significado desse poema, e então eles começam a ler frase por frase juntos e bem devagar:
Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

Eles lêem o poema mais duas vezes e Plummer vira para Luckin e diz:

- Não tenho mais nada para lhe dizer Luckin, se não fosse Agatha quem tivesse me dado o envelope para te entregar, eu poderia acreditar que fora alguém ciumento que te mandou, mas hoje, quando eu estava lá na Prefeitura, ela me disse que você entenderia isso.

- Então, Luckin exclamou: você falou com ela hoje?

- Sim, responde Plummer, eu estava conversando com o Prefeito sobre o trabalho na Ponte e quando eu estava prestes a deixar o escritório, perguntei se ela iria enviar alguma mensagem para você, então ela me disse que ela já enviou esta carta através de mim antes de viajar para Dover, e depois eu fui ao seu escritório.

- Bem, disse Luckin, quando você ver Agatha novamente, por favor diga a ela que eu recebi a carta e que um dia eu vou responder, então eles mudaram de assunto e Plummer começou a contar sua épica viagem a Dover, falando sobre a primeira viagem para Dover Court, o que fez Luckin rir muito e esquecer a carta de Agatha com o poema da escritora brasileira.



London Bridge em Londres

The Tower Bridge, Londres

London Bridge em Lake Havasu City, no Arizona, USA, atualmente.

London Bridge sendo montada no deserto do Arizona, onde foi erguida a 
cidade de Lake Havasu City

London Bridge sendo montada em lake Havasu City no final década de 60, 
já com o Canal aberto no deserto com águas da Represa da Hidroelétrica Parker.

Dia da inauguração da Ponte no Arizona, em Lake Havasu City, 1971

London Bridge em Lake Havasu City hoje em dia.

Placa comemorativa da inauguração da London Bridge em Lake Havasu City

Blocos da ponte numerados para a remontagem no deserto

Vista aérea da década de 50, com a pista da Força Aérea Americana no deserto do Arizona, 
onde hoje está a cidade de Lake Havasu City.

Robert McCulloch 

Minha esposa Rose e Camila na atual London Bridge, e ao fundo a Tower Bridge em Londres, 2016

Ao fundo a Tower Bridge em Londres, 2016


Capa do Livro Duas Pontes, Um Poema - Clube de Autores
Estátua em bronze do casal de namoradas se despedindo na Estação St. Pancras, Londres
https://www.clubedeautores.com.br/ptbr/backstage/my_books/published 










Booktrailer - Duas Pontes, Um Poema

Duas Pontes, Um Poema - "Booktrailer" https://biteable.com/watch/architectural-design-pitch-copy-2416708?fbclid=IwAR1nKbD3XL7U4...