DE ORSON WELLES A BOECHAT, A
ETERNA ERA DO
RÁDIO.
No
ano passado escrevi aqui na Revista a crônica “Lambaris da Finlândia e a Guerra dos Mundos”, destacando as “fake news” e a influência do Rádio na
Comunicação do Século XX, principalmente após a narração da “Guerra dos Mundos”
em 1938 por Orson Welles.
Hoje
vou reescrever aqueles fatos inserindo a carreira do grande Jornalista,
Radialista, Comunicador, e mais uma infinidade de títulos que facilmente
serviriam para RICARDO BOECHAT, que
em mais uma das ‘peças que a vida nos prega’, nos deixou prematuramente no auge
de sua carreira.
Boechat,
podemos dizer, fez renascer o gosto pelo rádio, não que este veículo tenha
desaparecido com as dezenas de tecnologias e mídias que surgiram e foram sendo substituídas
por outras mais atuais, pois o Rádio nunca desapareceu desde a sua invenção.
Existem hoje dezenas de formas de comunicação, mas o rádio permanece soberbo em
sua essência no cotidiano das pessoas no mundo todo.
Na
versão atual desta minha crônica, inicio com uma “Master Piece” ou uma “Obra Prima”
mesmo da narrativa literária, um texto que recebi por ‘whatsapp’, de
autoria do, agora meu amigo no Facebook, o
Professor Marquim Crispim, de Goânia, o qual translado tal
qual como foi publicado, “ipsi leteris’:
Professor Marquim Crispim
FALA NO “CÉU BRASIL”
“Boa
noite, telespectadores da TV Céu Brasil! Aqui é âncora Ricardo Boechat.
Imagina
vocês a bondade infinita de Deus: embarquei em um helicóptero e pousei em uma
emissora angelical. A política aqui é noticiar esperança e consolo. Nesse
aspecto, peço licença para dizer aos familiares e amigos que eu estou fazendo o
que mais amo, trabalhando. Então não poderia estar melhor.
Mas tem
outras notícias: nos bastidores da TV Céu Brasil encontrei o narrador Luciano
do Valle. Depois de uma abraço demorado ele se mostrou animado: domingo próximo
ele vai transmitir um jogo sensacional. Os garotos do Flamengo que chegaram a
pouco aqui enfrentarão os jogadores inesquecíveis que vieram já há um tempinho:
aqueles craques campeões sul americanos da Chapecoense. O comentarista da
peleja vai ser o meu velho amigo Mário Sérgio. Ele me disse que quem vai dar o
pontapé inicial como convidado especial é o argentino Emiliano Salas (outro que
voou alto demais e que aportou aqui de repente).
Mas, o
melhor ele deixou para o final: a platéia não passará de 400 pessoas. É um
evento especial e cheio de bençãos. Nas cadeiras numeradas do Estádio Denner
estarão os mineiros de Brumadinho e os que foram pegos de surpresa nas chuvas
torrenciais da terra do Cristo Redentor. Imaginaram se Ele ia fechar os braços
para vocês? Telespectadores do Céu Brasil, esse pessoal foi bem acolhido aqui.
Em suas cabeças agora nem uma sujeirinha de lama: só chuvas de bençãos e amor.
Depois
do futebol terá um show de música e muita luz. Já confirmaram presença Wander
Lee, Belchior, Luiz Melodia, Emílio Santiago, Cristiano Araújo e muitos outros.
Elis Regina terminará o show com uma música da Mariza Monte chamada Vilarejo.
Ouçam um trecho dessa canção:
Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraíso se mudou para lá
Por cima das casas cal
Frutas em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonhos semeando o mundo real
Toda a gente cabe lá
Palestina, Shangri-lá
Vem andar e voa
Vem andar e voa
Vem andar e voa
Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar
Em todas as mesas pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos
Os destinos e essa canção
Tem um verdadeiro amor
Para quando você for
Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de…
Pois é,
queridos telespectadores, termino a edição de hoje dizendo que vim. Cheguei em
um vilarejo. Aqui é Shangri-lá. Cabe
muita gente. Tanta, que até impressiono em cada passo nesse novo lugar. Pois é,
andei até o helicóptero e voei. Como diz a letra, cheguei aqui pra acalmar meu
coração. Acalme o seu! O Canal da esperança e consolo, a TV Céu Brasil, não te
deixa esquecer jamais que Jesus está no comando”.
Boechat na Rádio Band News
Não existe no mundo, uma casa sequer, um
automóvel, sem um rádio, seja lá de que formato tecnológico esteja presente,
inserido nos celulares atuais, televisores “smart”,
enfim, sempre há uma forma de ouvir uma rádio, e hoje podemos ouvir rádios de
qualquer parte do mundo com um simples ‘click’ na Internet, no site radio.garden.
Cada pontinho verde representa uma rádio em algum lugar do mundo, acessível com um só click!
Desde Marconi, físico e inventor Italiano que inventou o telégrafo sem fios, o rádio faz parte do dia a dia de todos nós.
Rádio da primeira década do
século XX
A primeira transmissão tendo o conjunto voz e música
por ondas de rádio ocorreu em dezembro de 1906, em Massachusetts, nos Estados
Unidos. No Brasil, a primeira transmissão ocorre em 1923, por Edgard Roquete
Pinto e Henry Morize, e a primeira transmissão ocorreu durante a Exposição do
Centenário da Independência, quando empresários norte-americanos instalaram uma
estação no Corcovado.
Na chamada era do ouro do rádio, a partir de 1927, quando o rádio passa por um processo de massificação com a possibilidade de transmissão de sons de aparelhos que tocavam discos diretamente ao microfone, é iniciada, assim, a profissionalização do meio, com a contratação de artistas, transmissão de programas de auditório, rádio novelas e programas humorísticos.
Desde
o início do século XX até a década de 60, o Rádio era o principal veículo de
comunicação no mundo, mas foi com a narração da Novela “A Guerra dos Mundos” na
década de 30 nos Estados Unidos, que o rádio se tornou um fenômeno de
comunicação, mundial, tornando-se, digamos, obsoleto, a partir da década de 70
após o acesso à televisão e mais ainda após a chegada das novas mídias do
século XXI.
Mas a história demonstra
realmente que o rádio passou a ser o veículo de comunicação em cada residência
no mundo todo, a partir da mais famosa “fake news” da história moderna, que
foi a transmissão pela rádio CBS nos
Estados Unidos, narrada por Orson Welles em 30/10/1938 (e a
única do gênero), quando a rádio interrompeu a sua programação musical para
noticiar uma suposta invasão de marcianos, e como dizem e alguns duvidam, sem qualquer intenção de transmitir uma notícia
falsa.
A "notícia em edição extraordinária", na verdade, era o começo de uma peça de radio teatro, que não só ajudou a CBS a bater em audiência a emissora concorrente (NBC), como também desencadeou pânico em várias cidades norte-americanas. "A invasão dos marcianos" durou apenas uma hora, mas marcou definitivamente a história do rádio.
Dramatizando o livro de ficção científica "A Guerra dos Mundos", do escritor inglês Herbert George Wells, a novela radialista narrada por Orson Welles relatava a chegada de centenas de marcianos a bordo de naves extraterrestres à cidade de Grover's Mills, no estado de New Jersey. Os méritos da genial adaptação, produção e direção da peça eram do então jovem e quase desconhecido ator e diretor de cinema norte-americano Orson Welles. O jornal Daily News resumiu na manchete do dia seguinte a reação ao programa: "Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos".
Jonal do dia posterior à transmissão na Rádio CBS
Original do Livro 'A guerra dos Mundos'
A dramatização, transmitida às vesperas do Halloween (dia das bruxas) em forma de programa jornalístico, tinha todas as características do rádio jornalismo da época, às quais os ouvintes estavam acostumados. Reportagens externas, entrevistas com testemunhas que estariam vivenciando o acontecimento, opiniões de peritos e autoridades, efeitos sonoros, sons ambientes, gritos, a emoção dos supostos repórteres e comentaristas. Tudo dava a impressão de o fato estar sendo transmitido ao vivo.
Orson Welles transmitindo ao vivo na
Rádio em 30/10/1938
A CBS calculou na época que o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas, das quais metade o sintonizou quando já havia começado, perdendo assim a introdução que informava tratar-se de rádio teatro semanal, e pelo menos 1.2 milhão de pessoas acreditou ser um fato real, causando sobrecarregamento das linhas telefônicas, com aglomerações nas ruas e congestionamentos causados por ouvintes apavorados tentando fugir da cidade.
Cartaz da Rádio Novela
O medo paralisou três cidades e houve pânico em localidades próximas a New Jersey. Houve fugas em massa e reações desesperadas de moradores também em New York.
O programa foi feito com todas as características do radio jornalismo: reportagens na rua, entrevistas com testemunhas, opinião de peritos e autoridades. Welles, por exemplo, interpretou um astrônomo. Tudo isso dava a impressão de que os fatos eram reais e ao vivo. Para passar ainda mais realismo, investiram em sonoplastia: o som das naves foi feito com a descarga do banheiro!
Invasão
dos Marcianos na versão da época
Para envolver ainda mais os ouvintes, a transmissão teve sua
história atualizada e adaptada da Inglaterra para os EUA. Na versão, a pequena
cidade de Grover’s Mill, no interior
de New Jersey, foi escolhida ao acaso
como a primeira parada dos alienígenas no nosso planeta. Ironicamente, lá, a
população não entrou em pânico com o programa, provavelmente porque
simplesmente olhavam pela janela e notavam que estava tudo bem.
O estrago foi grande.
No dia seguinte, jornais de todo o mundo noticiavam o pânico causado pela
transmissão, e o governo norte-americano exigiu uma cópia do programa para
análise e, nos meses seguintes, Welles e a CBS foram alvo de centenas de ações na Justiça, mas nenhuma foi
bem-sucedida.
O livro “A
Guerra dos Mundos”, publicado em 1898, era uma de obras mais
conhecidas do escritor britânico H. G. Wells, tendo Londres como
cenário. Ele escreveu num estilo bastante jornalístico e tecnologicamente
atualizado para sua época. A transmissão de “A Guerra dos Mundos” foi também um alerta para o próprio
meio de comunicação "rádio".
Ficou evidente que sua influência era tão forte a ponto de
poder causar reações imprevisíveis nos ouvintes. A invasão dos marcianos não só
tornou Orson Welles mundialmente famoso como é, segundo cientistas de
comunicação, "o programa que mais marcou a história da mídia no século
20". http://www.dw.com/pt-br/1938-p%C3%A2nico-ap%C3%B3s-transmiss%C3%A3o-de-guerra-dos-mundos/a-956037
.
Em
2018 a TV Cultura em seu programa ‘Panorama’, fez um documentário sobre os 80
anos da famosa transmissão e que mudou a história do Rádio no mundo.
https://www.youtube.com/watch?v=_ZdBHDA6nRA
“A GUERRA DOS MUNDOS” NO MARANHÃO
“A Guerra dos
Mundos” é até hoje o maior evento
‘midiático’ da história do rádio, ao passo que até uma emissora brasileira, a Rádio Difusora de São Luiz, Maranhão em
30/10/1971, (também em véspera de Halloween,
mas segundo relatos por pura coincidência), reprisou a narrativa de Orson
Welles, como se a invasão alienígena estivesse ocorrendo no Brasil e nos
Estados Unidos - http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/10/programa-de-radio-que-causou-panico-no-maranhao-faz-40-anos.html.
Por aqui imperou uma
vez mais a criatividade do brasileiro, pois diferentemente de Welles,
lá em São Luis no Maranhão, em 30/10/1971 a intenção foi mesmo ‘pregar
uma peça’ nos ouvintes da rádio, e aí meus amigos, essa transmissão mereceria o
‘Oscar da Comunicação Mundial’, pois
os Radialistas Sérgio Brito, hoje com 79
anos, ‘Roteirista’ e Manoel Pereira,
hoje com 68 anos responsável pelos efeitos sonoros, foram os criadores participantes
da encenação, inventaram as mais diversas situações que uma invasão desse porte
poderia causar, com informações de “milhões de mortos em todo os Estados
Unidos”, com informações de “pânico total na Europa”, “sons das naves dos
Marcianos”, “mudança da capital da Rússia de Moscou para São Petersburgo”, enfim,
uma encenação perfeita que torna-se impossível hoje ouvir e não ‘morrer de rir’
com as ‘informações’ que não paravam de chegar à Rádio. Simplesmente sensacional e deve ser ouvida! (Links das gravações ao
final da matéria).
Livro sobre a transmissão da
‘Guerra dos Mundos’ no Maranhão
Nos Estados
Unidos Welles interpretava uma radio novela e alardeava o
corre-corre das pessoas, os engarrafamentos, o desespero e todo o ambiente de catástrofe diante da invasão alienígena, mas lá no Maranhão o idealizador do roteiro da Rádio Difusora
procurou, de forma sutil, evitar uma onda de evasão da cidade, possivelmente tratando de não criar perigo à
população, e lá em São Luis foi possível ‘bloquear’ essa evasão devido a posição geográfica da cidade, que está situada em uma ilha que comporta mais três
municípios, a capital São Luís é ligada ao continente por uma ponte no Estreito dos Mosquitos, logo após, avançando no continente, está situado o Campo de Perizes (‘Perizes’ mesmo).
Assim, visando evitar uma fuga em massa e desespero, o roteirista escolheu informar como “campo de pouso” da nave alienígena o Campo de Perizes, para que ninguém
ousasse sair da cidade por via terrestre, já que inevitavelmente teria de
passar pelo ponto de maior perigo, onde a equipe de reportagem formada por Jota Alves e Eracias Bezerra morreu carbonizada, tal qual o
repórter Phillips em A Guerra dos Mundos. Espetacular a radiação, digna mesmo de um ‘Oscar’!
Áudio com a transmissão ao vivo no Maranhão em
1971 no link abaixo, para ‘chorar de rir’: http://kamaleao.com/saoluis/4908/livro-outubro-71-memorias-fantasticas-da-guerra-dos-mundos#ixzz57BSUun3U
Sérgio Lima da Rádio Difusora de São Luis do Maranhão
Manoel dos Santos Pereira da
Rádio Difusora São Luis
Essa
transmissão radialista ao vivo da “invasão
da terra por extraterrestres” torna-se ainda mais inusitada no Maranhão de
1971, pois o País estava em plena ditadura e ninguém foi preso! Segundo
notícias da época, os radialistas foram obrigados a entregar uma gravação em fita
do programa à Polícia Federal, mas antes deram um jeito de enxertar nela avisos
de que o programa era uma obra de ficção, avisos que não foram feitos na
transmissão ao vivo preparada para
comemorar o aniversário da Rádio Difusora, de São Luís.
“A Guerra dos Mundos de São Luís do Maranhão” foi desencadeada dentro do programa de rádio Paradão
do Rayol, ou Hit Parade, líder em audiência nas manhãs de sábado,
apresentado na época por Rayol
Filho. No entanto, um antecedente daria mais tom de mistério à peça
radiofônica que estaria por vir. Toda a estratégia montada pela Rádio Difusora
visava anular a idéia de um programa específico sobre a invasão dos
alienígenas, de forma que a seqüência da programação da emissora se
apresentasse normal aos ouvintes.
Nos antecedentes,
ainda no início da manhã, o radialista José Branco finaliza o programa musical “Quem manda é você”, anunciando que na
seqüência o intelectual Bernardo de Almeida iria entrevistar um astrônomo do
Observatório Nacional, que estava no Maranhão para investigar vestígios de uma
aeronave que teria aterrissado em Cururupu, município do litoral maranhense
onde existe uma modalidade de areia especial denominada “monazítica”.
CD- com elenco da transmissão da Rádio Difusora de São
Luiz
O cientista era
representado pelo ator Reinaldo Faray, já falecido. Então se
criava um suspense, porque o programa apresentado por Bernardo de Almeida era
veiculado na TV Difusora e estaria sendo encaixado excepcionalmente na rádio
porque o cientista estava de passagem por São Luís e seguia viagem para
Cururupu.
Como não poderia ser
entrevistado na TV, que só entrava no ar às 15 horas, a emissora não perderia a
oportunidade de obter as informações do cientista em primeira mão. Tudo era anunciado como um “furo de
reportagem”. Maravilhoso! Fonte:
GT2 História da Mídia Sonora.
Portanto, a versão Maranhense que aconteceu em plena
ditadura militar e levou até tropas do exército a ocuparem a Rádio Difusora, é
considerada um dos marcos da história do rádio e do jornalismo no Estado do
Maranhão, e podemos dizer do Brasil inteiro, e, guardadas as proporções, a
transmissão Maranhense foi tão impactante quanto a do famoso Orson
Welles em 1938!
Hoje pela Internet encontramos diversas informações
sobre essas transmissões, e conta-se ainda que o comércio de São Luis fechou,
pois muitos alegaram que ‘queriam esperar a morte junto aos seus entes
queridos’, o que fez com que os taxistas naquele dia faturassem a renda de uma
semana em apenas poucas horas de trabalho.
Na
memória coletiva da cidade há lembranças de pessoas acendendo velas, pregadores
reunindo grupos para a leitura do Evangelho, e políticos proeminentes
confessando traições amorosas, recebimentos de propinas (já naquela época), e
pedindo perdão de joelhos às mulheres, enfim, um pandemônio.
Além
disso, uma unidade do Corpo de Bombeiros chegou a ser acionada durante o
programa, e um oficial do Exército que participava de um churrasco em Pinheiro,
a cerca de 90 km de São Luís, fretou um vôo (depois pago pela rádio Difusora)
para levá-lo à capital, onde constatou que o relato da Difusora não
correspondia à realidade. Por causa disso, e depois de encerrada a transmissão,
uma patrulha do Exército invadiu a rádio e exigiu que a rádio fosse lacrada - a
emissora ficou fechada por três dias.
Foto de 30/10/1971
"Quando a ficha caiu, eu acho que as pessoas
ficaram com muita vergonha de terem sido enganadas. Isso ajudou também a
esfriar o assunto e deixar que ele praticamente ficasse esquecido por quatro
décadas", analisa Pereirinha.
A experiência de “A
Guerra dos Mundos” já foi repetida ainda em alguns países, com
resultados semelhantes ou até mais graves. No Chile, em 1944, o susto provocou
pelo menos um ataque cardíaco fatal. No Equador, em 1949, uma multidão
enfurecida – por ter sido enganada – incendiou a rádio que transmitiu o
programa, matando seis funcionários.
No
Brasil, houve outras experiências inspiradas no exemplo de Orson Welles, mas a mais
sensacional delas foi a do Maranhão. A legislação brasileira de radiodifusão –
como a de quase todo o mundo na atualidade – pune com rigor este tipo de uso do
meio, podendo suspender a emissora e até cassar sua concessão. Para a sorte da CBS e
de Orson Welles, ainda não havia este tipo de legislação nos Estados
Unidos de 1938, o que os livrou de milhares de processos e pedidos de
indenização - http://www2.carosouvintes.org.br/o-dia-em-que-a-terra-pirou/
A
diferença é que Welles criou o maior fenômeno do rádio até hoje com uma “fake news” sem ter a mínima intenção
disso, pois dentro do estúdio da rádio transmitia uma rádio novela com
características bem reais para a época, repita-se, inovando até na sonoplastia
com uma ‘descarga de banheiro’ como som
de naves marcianas, tornando-se merecidamente um dos maiores Diretores do
cinema mundial.
Nos
links abaixo o programa completo da Rádio Difusora de São Luis em 1971, uma
audição obrigatória para os amantes do rádio e das ‘boas estórias’!
1ª parte da transmissão - https://www.youtube.com/watch?v=6QjfLcE684I
2ª parte da transmissão - https://www.youtube.com/watch?v=fbO-T8fb5BA
Imagem do Programa da TV
Cultura
No Brasil, a era de
ouro mesmo foi a década de 40 e de 50, quando o país assiste o surgimento de
ídolos, novelas e revistas a expor o meio artístico. Dessa época são nomes como Mário Lago, Cauby Peixoto, Emilinha
Borba, Paulo Gracindo, Janete Clair e
muitos outros, que eram retratados na Revista do Rádio, de Anselmo
Domingos.
Apesar de ter
garantido por várias décadas papel de destaque na sociedade brasileira, em fins
da década de 1950, com a concorrência da televisão, o rádio começou a perder
prestígio, uma vez que a recente novidade reunia não apenas som, mas também
imagem, todavia, repito, o rádio nunca deixou de existir, a exemplo das várias
mídias que foram sucesso no século XX e mesmo agora no século XXI.
Nas
mesmas proporções, considero Ricardo Boechat o ‘fenômeno’ do Rádio brasileiro
atual, pois em meio a todo esse ‘emaranhado’ de mídias disponíveis hoje em dia,
conseguiu reviver a comunicação através do rádio, atingindo os mais variados
públicos em todo o Brasil, do jovem de 20 anos ao Senhor e Senhora de 80 anos
ou mais.
Rádio Band News diariamente
uma programação diversas e consistente.
Com uma mistura de jornalismo fino e apurado,
crítico e imparcial e com uma boa dose de sátira e humor afiado, Boechat
conquistou as mais diversas camadas da sociedade, fazendo renascer o gosto pelo
Rádio desde as gerações mais antigas até as novas gerações, inclusive de
crianças cujos Pais e Mães o ouviam diariamente.
Com o “Zé Simão” criou o jargão “tirem as crianças
do carro”, quando os fatos contados e satirizados pelo ‘Zé” exigiam uma dose a
mais de palavrões, um sucesso entre os pequenos e os pais.
Boechat na Rádio Band News
Boechat fez renascer o gosto de ouvir Rádio em meio
a uma infinidade de meios de comunicação e aplicativos das mais variadas
formas, tornando impossível ficar desconectados de nossos celulares hoje em
dia, no entanto, sempre sobrava um tempo para ouvir uma rádio, mesmo que fosse
pelo celular!
Uma
das grandes entrevistas que o Boechat concedeu podemos ver no link abaixo, no
Programa “Agora é tarde”.
O Legado profissional de Ricardo Boechat reúne os
principais prêmios da comunicação em quase 50 anos de jornalismo. O jornalista
começou a carreira no Diário de Notícias, extinto jornal do Rio de Janeiro, e depois
disso, ele passou pelos principais veículos de comunicação do país. Na década
de 1980, esteve no jornal O Globo, onde chegou a assinar a usa própria coluna.
Ainda no Rio de Janeiro, trabalhou no Jornal do Brasil e na sucursal carioca do
Estado de São Paulo.
Desde 2006, além de diretor de jornalismo do
grupo Bandeirantes, Boechat era âncora do Jornal da Band e apresentava o
programa de rádio Band News FM. Ele também tinha uma coluna junto com Ronaldo
Herdy na revista IstoÉ.
Como Âncora do jornal da Band
Em
todos os seus anos de trabalho com a comunicação, Ricardo Boechat foi um dos
jornalistas mais renomados do meio, recordista de prêmios. Ele foi vencedor de
três prêmios “Esso” e nove “Comunique-se”, além de ser
eleito o jornalista "Mais
Admirado" na pesquisa Jornalistas&Cia em 2014, um dos principais
rankings da profissão no país.
A carreira dele não permaneceu apenas nos
jornais, estendendo-se para a literatura, onde escreveu o livro "Copacabana Palace – Um Hotel e sua
História", que conta a história do hotel que dá nome ao título.
https://www.metrojornal.com.br/foco/2019/02/11/legado-profissional-ricardo-boechat-principais-premios-da-comunicacao.html
Cantor Léo Jaime e Boechat
em Paris, década de 80
Modelo de rádio da segunda
metade do século XX
Atualmente
a tal expressão “fake news” já virou mais um termo ‘aportuguesado’ e incorporado ao nosso cotidiano, e fatalmente
entrará nos nossos dicionários como diversas outras palavras e expressões que
se ‘abrasileiraram’ e hoje fazem
parte do nosso idioma na era das mídias sociais, e podemos dizer que o termo
surgiu após Mr. Trump ter lançado a
expressão em represália aos seus críticos da imprensa norte americana!
Quem
nunca fez uma brincadeira qualquer de contar alguma história ou algum fato como
se fosse a pura verdade? Em pequenos círculos de amigos isso gera apenas
algumas brincadeiras sadias, mesmo que às vezes alguém possa se sentir
ofendido, mas isso passa.
Nas
mídias sociais o que se vê quase que diariamente são ‘estórias’ que aparentam
ter algum fundo de verdade, entretanto não passam de ‘fake news’, fatos
postados deliberadamente por alguém com o único propósito de ‘enganar’ os
leitores.
·
“Lambaris da Finlândia”
Na crônica da Revista VidaBrasilTexas, inseri essa
passagem minha, sem querer traçar paralelo algum com a famosa notícia do rádio,
e narrei uma um episódio ocorrido em 2014 quando fiz uma viagem de negócios à
Finlândia, um país fantástico em todos os aspectos que se possa ‘medir’ a
qualidade de um país e de seu povo, e ao retornar ao Brasil após uma semana, no
dia seguinte teria o meu semanal encontro no Clube Itamirim, de Itajaí, com meu
grupo de tenistas “Quinta-feirinos”,
como são chamados esses encontros semanais aqui em Santa Catarina, onde cada
dia da semana tem a sua denominação equivalente (‘segunda-feirinos’, etc.).
Como
de praxe em nosso grupo, quem viaja traz alguma iguaria ou uma bebida local
para oferecer no jantar da semana, e como havia me esquecido totalmente disso
devido ao curto espaço de tempo da viagem, fiquei pensando no que poderia
compensar essa falta, até que passei no escritório de um amigo que é o maior
pescador de lambaris que conheço, e que já foi dizendo na chegada: “Aqui estão
os teus lambaris que te prometi”, e abriu o ‘freezer’
na cozinha do escritório e entregou-me dois pacotes com os peixinhos!
Agarrei
os dois pacotes de lambaris congelados embrulhados em jornal e os coloquei
dentro de uma pequena caixa de isopor, e após um pequeno bate-papo fui para
casa me preparar para ir ao clube no jantar daquela Quinta-feira. E foi aí que
surgiu a idéia: “Tá aí a iguaria da Finlândia que vou levar para aperitivo do
jantar”, peixes dos lagos Finlandeses!
Desembrulhei
os lambaris e coloquei-os em uma sacola do “free-shop”
do aeroporto de Helsinque onde havia comprado algumas barras de chocolate,
e fui ao Clube para o jantar e ofereci o aperitivo daquela noite, mostrando
para todos a sacola com dizeres em Finlandês e anunciei que eram “peixes dos lagos Finlandeses”, que a
Da. Ieda proprietária do Restaurante do Clube iria preparar e servir uma
‘fritada’ de aperitivo.
Servida a ‘iguaria’, informei que eram peixes de águas geladas do país com o maior número de lagos de todo o planeta, 187.888 exatamente, - http://www.fishinginfinland.fi/ - portanto, não era sempre que se saboreava um aperitivo dessa qualidade!
Na Universidade de Oulun, Campus de Kajaanin,
Finlândia
Rios e Lagos Finlandeses
Sucesso
total, e pronto, havia largado uma “fake news”, e todos aprovaram o “excêntrico peixe dos lagos Finlandeses” que
havia trazido, e ninguém sequer perguntou como havia conseguido trazer mais de
três quilos de peixe desde a Finlândia, com mais de 20 horas de vôo e conexões!
Somente
na semana seguinte é que contei que o ‘famoso’ aperitivo servido na semana
anterior era uma ‘boa fritada do nosso lambari’! Risadas geral, se bem que
muitos que haviam aprovado a iguaria ainda ficaram meio céticos, e até hoje
quando alguém vai trazer alguma ‘novidade’ para o nosso jantar semanal é
alertado: “não venha com lambaris da
Finlândia’!
Bem,
as tais “fake news” já existem há séculos, pois na história encontramos
inúmeras passagens onde de alguma forma lançavam-se notícias através das formas
de comunicação existentes, por diversas razões, e hoje em dia com a profusão de
mídias sociais, está cada vez mais difícil distinguir se é mesmo “lambari da Finlândia”!
Em
uma busca rápida na Internet encontramos diversas ‘fake news’ na história
moderna - http://www.thesocialhistorian.com/fake-news/ - https://veja.abril.com.br/revista-veja/a-ameaca-das-fake-news/
Hoje
em dia com a infinidade de notícias nos milhares de meios de comunicação
existentes (fora o Google), o risco de ler alguma notícia, no mínimo duvidosa,
é grande, e por isso é preciso ter cautela para levar adiante qualquer
informação “meio estranha” e não comerem “lambaris
da Finlândia”.
Descanse em paz Boechat!